segunda-feira, 14 de março de 2011

Entrevista aos Tocándar



O Grupo de Percussão Tocándar nasceu na Marinha Grande no ano 2000 como projecto pedagógico e artístico que transporta para os nossos dias a festa dos “Zés Pereiras”.
Em Portugal os grupos chamados “Zés Pereiras” são característicos das festas e romarias do Norte, com maior incidência para o Entre Douro e Minho. Estes grupos desfilam pelas ruas tocando instrumentos de percussão caixas de rufo, timbalões e bombos; assim como aerofones melódicos: pífaros e gaitas-de-foles. Recentemente a concertina, instrumento de grande expressão no Minho, tem sido introduzida nestes conjuntos.
O grupo de percussão Tocándar é reconhecido pelo seu projecto social e artístico, que visa estimular o espírito associativo. Este grupo criado por Paulo Tojeira há 10 anos integra mais de 700 jovens do concelho, inscritos em diversas actividades e apresenta actividades como arruadas, oficinas de percussão, gigantones e cabeçudos, caretos, gaiteiros e pauliteiros.
Na rua ou em palco, o grupo apresenta um espectáculo que faz a fusão entre bombos, caixas, timbalões, djembés, didgeridos, espanta espíritos, estruturas metálicas, bidões, caretos, cabeçudos, gigantones, tamborileiros e gaiteiros, onde convivem ambientes rítmicos tradicionais e contemporâneos, impregnados de energia juvenil.
O grupo realiza arruadas, espectáculos em palco e oficinas de percussão. Cada espectáculo é o culminar de um processo de aquisição de competências na área das culturas tradicionais, desenvolvido de forma cooperada.
A indumentária do Grupo de Percussão Tocándar é uma homenagem a todas as gentes de trabalho da Marinha Grande. A cidade está ligada à indústria vidreira e por essa mesma razão, o grupo recorreu às vestes usadas tradicionalmente nesta indústria.
Assim, a partir do avental de zuarte azul das empalhadeiras e das calças de peitilho das escolhedeiras; da calça de zuarte azul e da camisa de estamanhinha do vidreiro, nasceu a indumentária com que o grupo se apresenta e que é constituída por: "jardineira" azul, camisa de estamanhinha cinzenta (ou branca), t-shirt branca e boné azul.
Os instrumentos são decorados com o tradicional lenço vermelho, usado pelos vidreiros para limparem as bagas de suor durante o trabalho.

Distinções atribuídas
• "Projecto de Interesse Cultural" (Câmara Municipal da Marinha Grande - 2001);
• "Projecto com importância pedagógica e artística" (CAE Leiria - Ministério da Educação - 2004);
• “Prémio Calazans de Mérito Artístico" (2006);
• Troféu "Melhor grupo de percussão" (Rádio Central FM - 2006);
• Discografia colaboração no CD " De la revuelta a la marea" da banda asturiana "La Raitana" (2002);
• CD “Tocándar” (2004);
• DVD “Não há festa sem bombos!” (2004);
• Colaboração no CD “Portugal a Rufar” (2005);
• CD "Tocándar ao vivo" (2005);
• DVD “Ritmus” (disponível por encomenda) (2006);
• Colaboração do CD “Roncos do Diabo” (2008);
• Vídeo clip’s de “Canto da Terra” de Roberto Leal (2008);

Alguns espectáculos e workshops em destaque Espanha.
Hoyos del Espino, Gioán, Vigo, Nava (Festival da Sidra), Salamanca, Huesca (Festas de San Lorenzo), S. Esteban de Gormaz (Festival Aires de Dulzaina), Zaragoza (Expo 2008, Santiago de Compostela (2010)

França
Angoulême (Concert Européean)

Itália
Prato (participação no Seminário do Projecto ENTRAMUS - Rede Europeia de Escolas de Música Tradicional)

Portugal
Beja (Ovibeja), V. R. Santo António, Grândola (FolKontest), Faro (5º Komboyo dos Lokos), Trebilhadouro - Vale de Cambra (IV Festival de Artes e Cultura Tradicionais), Gaia (Festival Convivência com Gaiteiros de Lisboa), Mindelo (Concertada 2005), Seixal (Festa do "Avante!"), Ponta Delgada - Açores (primeiros passos do grupo de percussão da Associação Tradições), Chãos - Rio Maior (“Tambores e Fogo” com Humanart), Zambujeira do Mar (Festival do Sudoeste), Lisboa (Parada de Aniversário da SIC), Fátima ("14ª Gala da Central FM"), Lisboa (I Sarau de Gala da Ginástica), Vila Franca de Xira (Festa do Colete Encarnado), Pinhal Novo (FIG - Festival Internacional de Gigantes), RTP (Programa "Portugal Azul"), Marinha Grande (Feira de Artesanato e Gastronomia com La Raitana), Fátima (gravação de vídeo clip's e espectáculo com Roberto Leal), Seixal (Portugal a Rufar), Braga (Encontro Internacional de Gigantones e Cabeçudos), Marinha Grande (Abertura do Campeonato Mundial de Orientação), Lisboa – RTP (Programa Praça da Alegria - "Dia dos Avós")

Ver também Instrumento de percussão
Zés Pereiras
Ligações externas:
• www.tocandar.com
• www.myspace.com/tocandar
Obtida de "http://pt.wikipedia.org/wiki/Toc%C3%A1ndar"
Categorias: Grupos de percussão | Bandas de Portugal
Tocándar
Informação geral
Origem Marinha Grande
País Portugal
Géneros Percussão
Período em atividade desde 2000
Página oficial: www.tocandar.com
Todo o trabalho de preparação é desenvolvido nas antigas instalações do mercado da Marinha Grande sem grandes condições e só temporariamente, pois continuam à procura de soluções para o problema em arranjar um espaço que seja deles. Têm muito material e necessitam de um espaço maior para arrumarem tudo, para ensaiarem e para montarem a sua pequena oficina. Este grupo envolve alunos de diferentes escolas locais e é de louvar o trabalho que este professor de Educação Física tem vindo a desenvolver no concelho da Marinha Grande com uma grande parte da juventude deste concelho, no entanto, não me está a parecer que lhe estejam a dar o devido valor.
Fui falar com o responsável pelo grupo senhor Paulo Tojeira, e fiz-lhe uma pequena entrevista.

Entrevista.

P -O que pensou quando começou este projecto?
R- O Tocándar começou como actividade escolar, no quadro do Projecto A-Ventura da Escola Secundária Eng. Acácio Calazans Duarte. Os objectivos eram:
• Proporcionar contacto com aspectos essenciais do nosso património cultural, nomeadamente na área da música tradicional e da expressão corporal;
• Contribuir para a educação estética, no quadro dos ritmos tradicionais portugueses;
• Contribuir para a educação do sentido rítmico e tímbrico;
• Contribuir para a fruição saudável dos tempos livres;
• Criar condições para a concretização de situações de autoconfiança e prazer;
• Criar condições para o desenvolvimento de trabalho cooperado.
Era necessário, é sempre necessário criar actividades que sejam atrativas para os jovens, de forma a evitar que eles gastem o tempo em coisas desaconselháveis. Além disso, é importante preservar e recriar as nossas tradições. Achei que tudo isto era possível com este projecto. E foi tal o sucesso que tivemos de criar a Associação Tocándar para poder dar resposta à crescente procura e a tudo o que era necessário fazer.

P- Já tinha na ideia formar um grupo tão grande?

R- Ao princípio não foi fácil. Não havia dinheiro nem gente. Mas de repente começou a aderir muita juventude e começámos a ter um espectáculo para poder vender e ganhar dinheiro. Dinheiro que serve apenas para mantermos o funcionamento do grupo. Não temos profissionais. Ninguém ganha nada em dinheiro. Neste momento temos mais de 700 jovens inscritos e cerca de 80 praticantes activos. É sem dúvida um dos maiores projectos do país e, arriscaria a dizer, também da Europa!!

P: Está satisfeito com as proporções que este projecto tomou?

R: Estou satisfeito, relativamente. É preciso estar sempre a crescer! Quer em número de jovens activos, quer em qualidade! Mas quanto maior a nau, maior a tormenta!

P: Como se sente ao ver o resultado?

R: Muitas vezes… uma lágrima ao canto do olho… Tenho orgulho nesta malta! Está provado que é possível!!

P: Como é que um professor de educação física se envolve nisto?

R: Um professor, neste caso de Educação Física, envolve-se em muita coisa. O mais importante para nós são os alunos. E eu gosto de estar com eles e de partilhar estas “loucuras” com eles. E responderia à pergunta: e porque não um professor… de educação Física?

P: Como consegue controlar tantos jovens ao mesmo tempo?

R: Eu se calhar não os controlo! Eles é que querem estar ali! Reconheço que às vezes não é fácil. Às vezes é preciso carradas de paciência. Mas está provado que vale a pena. Sinceramente, são mais complicados os problemas que nos criam de fora, que os problemas internos!

P: Já vi o vosso trabalho, vocês têm um espectáculo muito bem montado e grande. Quando vão actuar longe da Marinha Grande, como é que fazem para levar o equipamento e os artistas?

R: É preciso um autocarro, uma camioneta para os instrumentos (20 metros cúbicos), planificação da viagem com os locais de paragem, comida para o caminho e refeições em restaurantes, sacos para o vomitado, mala de primeiros socorros, um contrato que garanta as condições adequadas ao espectáculo, autorizações assinadas dos pais, etc. Ou seja, é necessário o mesmo de que necessita um qualquer cantor ou grupo profissional.

P: Porquê a percussão?

R: Porque a percussão é uma paixão! E é uma forma de expressão elementar do ser humano!...

P: Qual o tipo de apoios que têm?

R: Temos alguns… Principalmente da Câmara e da Junta. Mas estão longe de serem os adequados!!!! E não estou a falar em dinheiro!!! Temos necessidade urgente de instalações adequadas ao nosso trabalho!

P: Sendo os Tocándar um grupo formado a nível escolar, acha que não vos dão a devida importância?

R: Será por sermos um grupo muito ligado às escolas, será por trabalharmos na área das expressões tradicionais, será por sermos amadores… O grande problema creio que é a enorme falta de cultura em que vivemos! Esse é de facto o maior obstáculo!! Há coisas que temos de perceber sem grandes explicações. Nós não devíamos precisar de fazer pressão para nos serem propostas condições de trabalho com alguma dignidade!!!

P: Nota-se que faz este trabalho com paixão, perde muito tempo com os jovens, a sua família não reclama?

R: Não perco tempo! Realizo uma parte de mim. É certo que é à custa do meu tempo livre e do tempo que deveria dedicar à família. Mas se for de outra forma, nada seria possível neste país e neste contexto. Somos uns pré-históricos em matéria de cultura, de animação e de trabalho informal e não formal com as populações. Daqui a uns bons anos o nosso trabalho vai ser verdadeiramente valorizado!!

P: Já fez a sua árvore genealógica? Tem a certeza que não tem uma costela Indiana?

R: Não sei se tenho algum ascendente indiano… Sei que sou um cidadão empenhado em provar que esta “geração arrasca” é capaz de construir o belo! Sejam-lhes dadas condições!

P: Projectos para o futuro?

R: É difícil falar de projectos para o futuro… Todos os dias há ideias novas e possíveis de concretizar. A imaginação não tem limites…
Mas uma sede com condições dignas seria um bom começo para o futuro!

Muito obrigada ao Senhor Paulo Tojeira, por ter atendido ao meu pedido, devo dizer que é uma pessoa verdadeiramente digna de se conhecer, e um bem haja por tudo o que tem feito nesta zona da Marinha Grande, e principalmente com esses jovens todos.





Texto: Lurdes Ramos
Fotos/Vídeos: Samuel Lopes

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